terça-feira, 30 de outubro de 2012
O 'herói' Tim Lopes
Em seu artigo "Martírio e autoridade na trama noticiosa do caso Tim Lopes", o jornalista Marcio Castilho analisa a forma com que o jornal "O Globo" lidou com a apuração da morte do repórter, que trabalhava na televisão de sua organização.
Ele constata que o periódico não lidou com a situação de forma imparcial. Obviamente, o assassinato funcionou também como um ataque ao jornalismo praticado pela Globo, premiado diversas vezes por suas matérias investigativas, que acabaram questionadas após a exposição pública do risco que seus repórteres passavam para conseguir apurar suas reportagens. Ou seja, até para fins comerciais, a empresa passou a lutar para preservar sua imagem, o que não é uma crítica direta ao conglomerado, pois qualquer outra empresa tomaria atitude semelhante. O importante é discernir isto.
No texto, Castilho lembra que foram 100 dias de acompanhando do caso Tim Lopes, dos quais em 31 a apuração ganhou espaço em sua página principal, algo considerável, pois é difícil uma apuração continuar matendo seu mesmo nível com o passar do tempo e da divulgação das principais informações. Ainda mais no "O Globo", que possui diversas editorias. Só por esta análise dá para perceber a engajamento do jornal em manter a investigação viva, como uma forma de pressionar diretamente as autoridades.
Curiosamente, a série de reportagens terminou assim que o traficante e assassino de Tim Lopes, Elias Maluco, foi capturado. Isto representou o cumprimento da missão do diário. Até lá, cada descoberta era noticiada. Os textos confundiam "descrição" com "informação", apelando para a emoção, que consederam a Tim Lopes o tom de herói. E foi essa realmente a herança que ficou do jornalista. Ele se tornou protagonista de uma história épica, um desbravador. Estas manchetes servem para ilustrar a justificativa: “Um repórter peão para toda obra” e “Um repórter que se chamava Arcanjo”. Isto diminuiu, mas não evitou, debates e discussões sobre os limites da matéria, até onde o repórter pode ir em sua apuração, e o dever de seu empregador em estabelecer suas "fronteiras".
É claro, além de uma posição do jornal, o leitor também é parte importante neste desenvolvimento. Castilho lembra em seu estudo da obra de Paul Ricoeur, "Tempo e narrativa", para lembrar que existe diálogo entre leitor e reportagem, esta última com a missão de o cativar, usando as técnicas já citadas. Com a atração da audiência, o relato ganha força e o processo é estimulado.
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