Jornalismo em debate
domingo, 25 de novembro de 2012
Apurar é preciso
Em seu livro "O culto do amador", o historiador inglês Andrew Keen critica em como a evolução da internet, chamada por ele por "Web 2.0", afetou o jornalismo.
Segundo ele, existem muitas informações falsas na rede que são rapidamente repercutidas por grandes redes sem serem apuradas, além de novos profissionais que se fazem valer do anonimato da internet para aparecer ou até mesmo lucrar com isso.
Em seu texto, ele cita exemplos de vídeos divulgados em períodos eleitorais, sem autores, e outras ferramentas que começam a circular pela internet e causam grande repercussão, afetando a imagem dos envolvidos, como do caso de uma gravação semelhante a de um dos principais telejornais da Alemanha, em que a força política do partido neonazista era exaltada. A criação causou grande repercussão no país e demorou a ser desmentida.
Além disso, ele diz também que com a internet, não há mais critério noticioso. Keen questiona o fato de discussões políticas serem fomentadas por elementos pouco representativos e serem minimizadas por estratégias para se ganhar audiência. Em determinado trecho, ele diz que "a fotografia de um bebê libanês ou israelense morto não é um guia últi para a compreensão da complexa situação do conflito do Oriente Médio".
sábado, 24 de novembro de 2012
Jornalistas cobram ONU sobre segurança
A Federação Internacional de Jornalistas cobrou a ONU para que acelere o processo de implementação do Plano de Ação pela Segurança de Jornalistas, na última sexta-feira. O programa, que defende punição aos países com casos de violência contra repórteres, está previsto para ser colocado em prática aos poucos, justamente pela resistência de nações que violam os direitos da imprensa.
O presidente da FIJ, Jim Boumelha, enviou uma carta ao secretário-geral da ONU lamentando a demora na oficialização do plano.
"Nós continuamos a ver que a impunidade floresce quando não há vontade política para garantir que estas mortes sejam investigadas, quando não existe um quadro legal e os juízes são fracos ou corruptos, quando poucos recursos são alocados para a segurança e quando a negligência, a incompetência e a corrupção oficial são abundantes".
A medida defendida pela FIJ amplia o projeto da ONU que condena os ataques contra os jornalistas em áreas de conflito também, à proteção de jornalistas em áreas livres de conflito.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Raio-X: Prêmio Esso e a evolução da sociedade brasileira
Desde 1956, quando foi criado, o Prêmio Esso acompanha a evolução da sociedade brasileira. Em sua estreia, a reportagem escolhida foi "Uma tragédia brasileira: os paus-de-arara", de Mário de Moraes e Ubiratan de Lemos, da revista "O Cruzeiro". Ela conta a história de nordestinos que saiam de suas cidades em busca de empregos do sul, quando o Brasil passava por intenso processo de industrialização, no mandato do presidente Juscelino Kubitschek.
Ainda na década de 50, mais uma matéria sobre a vida na seca foi premiada. Desta vez, a escolha foi por "Diário de um flagelado das secas", de Rubens Rodrigues dos Santos, do "Estado de S. Paulo". Ao invés de contar a saga em busca de uma vida melhor no sul, o repórter descreveu a rotina de um trabalhador na seca, a relação com chefes e o comportamento do político, semelhante ao coronelismo, que sofreu abalo com o deslocamento de trabalhadores do campo para a cidade.
No início de 60 foram premiadas matérias de forte cunho político. Se destacam as matérias de José Gonçalves Fontes, do Jornal do Brasil, sobre fraude eleitoral nas eleições legislativas da cidade do Rio de Janeiro, de Mário Mazzei, da Folha de S. Paulo, que mapeou o Vale do Rio São Francisco sob o ponto de vista econômico, também com apelo no Nordeste (o vale corta Minas Gerais, Bahia e Pernambuco), em "Um rio desafia o Brasil".
O último trabalho de influência social, digamos assim, foi em 1964, um ano da implementação do AI-5, que confirmou a ditadura no país. O autor foi Walter Firmo, do Jornal do Brasil, que retratou a rotina dos que viviam na Amazônia, com suas dificuldades. A partir daí, as amenidades tomaram conta do prêmio, justamente por causa da censura. Em 1966 o evento não foi realizado e nos três anos seguintes as premiações foram para duas matérias sobre futebol e uma explicando a psicanálise.
Em 1970, o prêmio foi para Carlos Chagas, repórter do O Globo que conseguiu a matéria após relatar a tentativa do presidente Costa e Silva em redemocratizar o país. Para construir a reportagem, ele relatou sua experiência do período em que foi secretário de imprensa da presidência da república. A Amazônia voltou ao foco com dois prêmios, que antecederam outro que foi para o relato de Humberto Borges no Jornal do Brasil de sua experiência em uma prisão de Cuba, terra de Fidel Castro.
O sopro de contestação política veio em 1976, com a reportagem "Assim vivem nossos superfuncionários", do Estadão. Feita por uma equipe de jornalistas, ela denunciou a farra de funcionários públicos na máquina administrativa. Já no fim da década duas outras matérias políticas mostraram um esboço do jornalismo investigativo novamente. "Exclusivo: Fala Figueiredo", de Getúlio Bittencourt e Haroldo Cerqueira (Folha de S. Paulo), exibe um perfil daquele que seria candidato a presidência bem diferente de sua imagem oficial, e "O sequestro dos uruguaios" (Luiz Cláudio Cunha e J.B. Scalco, da Veja), revelam a relação entre o crime político protagonizados por policiais que combatiam dissidentes.
No período seguinte, o combate contra a ditadura ganhou força e foram expostos casos de contratos nucleares entre Brasil e Alemanha, atentado do Rio Centro, revoltas na Marinha. Dos dez prêmios da década, oito foram para matérias que denunciavam irregulares no governo.
Em 1990, as reportagens internacionais dividiram espaço com a política nacional. Retratos da Guerra do Golfo e da polícia secreta russa (KGB) foram premiados, bem como a relação entre PC Farias e COllor e a candidatura do apresentador Silvio Santos à presidência do país. Com o fim da ditadura, as reportanges políticas foram diminuindo o tom e as de comportamento deram sequência até 2000. A partir daí, a cobertura sobre os políticos se manteve intensa, mas as favelas começaram a ganhar destaque, com o comportamento de traficantes, relação com a polícia, crimes, entre outros.
Neste ano, o prêmio foi para a cobertura da Folha de S. Paulo sobre a queda do presidente da Confederação Brasileira de Futebol. A reportagem ganha mais importância pois coloca o esporte de volta à tona, mas diferente dos anos 70, com uma reportagem investigativa sobre a posição do principal dirigente esportivo do país até então, em período que o Brasil receberá as duas maiores competições do planeta: Copa do Mundo, em 2014, e Jogos Olímpicos, em 2016.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Lei da selva
Em artigo intitulado "Fazer mais jornais, uma saída", o jornalista Dirceu Martins Pio, ex-diretor da Agência Estado e Gazeta Mercantil, afirma que a crise que afeta os jornais brasileiros (recentemente o Jornal da Tarde e o Marca deixaram de circular) pode ser contornada com a estratégia de dividir o contéudo jornalístico em vários veículos, a fim de expandir a comercialização e lucros das empresas. Como exemplo, ele cita a editora Abril, que conta com inúmeras publicações e sempre as renova, em processo baseado nas análises de resultados. As que não dão, são fechadas, e bola para frente, pois mais tarde surgirão outras.
Ele ainda cita o modelo da imprensa japonesa como exemplo de expansão de conteúdo e lucro. Porém, a análise pode ser questionada pelo fato de Brasil e Japão apresentarem economias bem distintas, ainda mais na época em qeu Pio viajou ao oriente, nos anos 1990.
Diferente do passado, o artigo lembra também que hoje a força que tomou a internet evita grandes lançamentos de jornais impressos. Ao invés de tentarem concorrer, eles preferiram se adaptar e construir também um contéudo digital, como o "O Globo" fez ao adotar no último ano um jornal vespertino para Ipad.
Entretanto, a timidez e o "medo" da rede virtual é criticada por Pio. Para ele existe maneira ainda de se obter sucesso com inovações no papel. Veja o que ele fala da RBS, rede jornalística que atua em várias mídias no sul do Brasil.
"Seus impressos são líderes de mercado em toda a parte: Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro, Diário de Santa Maria, Diário Catarinense, Hora de Santa Catarina, Jornal de Santa Catarina e o A Notícia. São jornais de circulação regional (Zero Hora, Diário Catarinense) ou local (Jornal de Santa Catarina, com circulação em Blumenau, e A Notícia, com circulação em Joinville). O grupo ocupou o mercado de impressos de Santa Catarina de tal modo que é acusado de monopólio pelos grupos concorrentes. De qualquer modo, dá demonstração de que passa ao largo da crise que assola os impressos no mundo todo e sua estratégia aparenta ser a de aproveitar a vitalidade econômica dos mercados regionais ou locais. Se operasse em São Paulo, com certeza o Grupo RBS já teria criado o jornal de Osasco, de Santo André, de São Bernardo, de Joinville, de Campinas..."
Certo é que os jornais impressos devem assumir novas táticas para continuarem existindo. Talvez também deva haver um questionamento sobre outros motivos que não econômicos para seus fechamentos, como a qualidade da informação.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Relatório aponta Brasil como vulnerável para jornalistas
A Internacional Freedom of Expression Exchange, rede mundial que defende a liberdade de expressão, divulgou um relatório que mostra que apenas 11% de casos de mortes de jornalistas os autores do crime foram condenados, entre 2010 e 2012, período em que houveram 74 assassinatos.
O Brasil, classificado como quinto país que oferece mais riscos para jornalistas no mundo, foi considerado com um perfil de "vulnerabilidade", segundo o Instituto Internacional de Segurança da Imprensa.
De acordo com a IFEX, os casos brasileiros se concentram em cidades pequenas que têm conflitos políticos. O curioso do relatório é que ele aponta que nas grandes cidades, a reação contra jornalistas é por meio da justiça, o que mostra a instabilidade no interior do Brasil.
Fotoxjornalismo
O artigo dos mestres em comunicação social Alice Baroni e Leonel Aguiar trata da posição do fotojornalismo na notícia. Sob o olhar de ONGs dos projetos Viva Rio e Observatório de Favelas, dedicados ao trabalho comunitário, que pretendem ampliar o olhar da imprensa para além da pobreza e violência, nesses locais.
O estudo revela um contraponto entre fotógrafos populares e os "noticiosos". Os primeiros tem a clara missão de retratar a favela sem elementos de violência e pobreza, motivados justamente pela constante exposição da mídia desses fatores, que acabam por associá-los ao lugar. Essa motivação já acaba por deixar seu trabalho parcial, indo contra um dos princípios mais importantes do jornalista. Pois assim como o repórter tem o poder de "beneficiar" determinado lado com sua escrita, o fotógrafo pode também reforçar algum ponto de vista com câmera. Entretanto, como já foi dito, essa ação é motivada pela caracterização que as comunidades foram "obrigadas" a aceitar.
Apesar do objetivo de mostrar uma favela em progresso, eles admitem em seu discurso que a realidade não está totalmente mudada. Em um dos trechos do texto, é dito que "Enquanto moradores de favelas, fotógrafos populares ressaltam que eles precisam saber muito bem os limites de sua atuação, de modo a salvaguardar a suas próprias vidas e também as pessoas da comunidade". E é neste ponto que se apoiam os fotojornalistas. Eles afirmam que o tráfico ainda tem o poder de ditar as regras e ameaças das favelas e consequentemente aos seus trabalhos. Tim Lopes também é usado como justificativa, pois segundo eles, sua morte representou a quebra do "bom convívio" entre criminosos e jornalistas.
O curioso é que a partir da implantação da UPP no Alemão, outra força repressora passou a ditar as regras para os fotógrafos: a polícia. Segundo Bruno Itan, morador do complexo, ele foi impedido de documentar a invasão do morro por agentes do estado, que haviam limitado também o trabalho da imprensa convencional, que não passou da entrada da favela por motivos de segurança.
- O que é que tu tá fazendo com essa câmera? Ué, tô imortalizando o que está acontecendo aqui. Isso aqui é inédito, histórico, isso aqui nunca vai acontecer de novo. Aí ele falou: o que... tu tá tirando várias fotos com cara de policial pra isso mesmo? Tu tá tirando foto pra mostrar pros cara lá dentro, rapá. Tá pensando que eu não te conheço não? Eu já te vi aqui. E eu fui deixando ele falar... ele começou a falar uma história que devia ter medo e eu olho tranquilo pra ele. Primeiramente, o que eu tô fazendo é um exercício de democracia, se o senhor num sabe. Isso aqui eu tô criando notícia. Isso aqui você não pode me proibir de fotografar ninguém em espaço público, vocês estão em espaço público agora, se eu quiser fotografar vocês eu posso, fotografo, só que eu não tenho ordem, nem autorização, de publicar a tua cara em canto nenhum sem a sua autorização. Mas a foto é minha, eu posso fazer o que quiser com ela, só não posso publicar a sua foto, sem a sua autorização, mas eu posso tirar a sua foto. A gente está em espaço público. Aí começou... ele se sentiu como se eu estivesse... eh.. um morador do morro qualquer... eh... falando coisas sábias pra um policial. Como se ele não soubesse de nada, entendeu. Ele se sentiu assim... oprimido assim. Com essa expressão... eu senti isso nele - relatou Bruno, que foi ameaçado a formatar sua câmera sob ameaça de ir para a delegacia por desacato à autoridade.
Existe um processo de discussão dos critérios de noticiabilidade sobre as favelas. O que por muitas vezes passou a ser notícia simplesmente por seu apelo visual ou emocional, agora é questionado em prol do valor da informação. Pelo menos é pelo que lutam as ONGs.
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Ferramentas de informação II
Além dos meios que se dedicam a prestar informação a partir de um trabalho de investigação, como o portal Transparência Brasil, também se pode obter dados importantes consultado os órgãos oficiais de um governo.
Cada estado, por exemplo, publica seu Diário Oficial (www.imprensaoficial.rj.gov.br), em que constam informações importantes da cidade, como andamento de obras, licitações, entre outra medidas governamentais. Ainda há sites mais especificos, de secretarias, por exemplo, bem como de ministérios, no caso do governo federal, em que se está disponível diversas informações, não necessariamente organizadas por ordem de importância. Neste caso, cabe ao jornalista ter a percepção de interpretar as informações e organizá-las da melhor maneira. Nesses textos oficiais, os dados são em sua maioria "embaralhados" e de difícil análise, por isso o repórter deve dedicar um tempo para análise.
No caso do diário, o profissional deve ter o compromisso de acessá-los constantemente, pois dele se podem tirar matérias de caráter social e que contradizem discursos políticos.
Puxando para o esporte, como é o meu caso, passei por uma experiência recente que pode ilustrar isso. Em uma entrevista com um presidente de confederação, ele me informou que estava fechando contrato com o Banco do Brasil e os Correios, se negando a me prestar mais informações. Entretanto, como são empresas estatais, eles são obrigados a nos prestar dados, se questionados. Com isso, liguei para lá e consegui apurar o valor e tempo do contrato fechado entre eles. Nesta mesma entrevista, o dirigente me falou sobre uma dívida, dizendo que contaria com a ajuda do Ministério do Esporte e do Comitê Olímpico Brasileiro para pagá-la. Segui a mesma regra e recebi a informação de que nenhum dos dois órgãos iria contribuir financeiramente. As informações foram passadas a mim horas depois da ligação, no mesmo dia.
Dessa forma, o jornalista tem que saber usufruir dessas possibilidades, que muitas vezes passam despercebidas, pois daí podem surgir excelentes matérias.
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