sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Raio-X: Prêmio Esso e a evolução da sociedade brasileira




Desde 1956, quando foi criado, o Prêmio Esso acompanha a evolução da sociedade brasileira. Em sua estreia, a reportagem escolhida foi "Uma tragédia brasileira: os paus-de-arara", de Mário de Moraes e Ubiratan de Lemos, da revista "O Cruzeiro". Ela conta a história de nordestinos que saiam de suas cidades em busca de empregos do sul, quando o Brasil passava por intenso processo de industrialização, no mandato do presidente Juscelino Kubitschek.

Ainda na década de 50, mais uma matéria sobre a vida na seca foi premiada. Desta vez, a escolha foi por "Diário de um flagelado das secas", de Rubens Rodrigues dos Santos, do "Estado de S. Paulo". Ao invés de contar a saga em busca de uma vida melhor no sul, o repórter descreveu a rotina de um trabalhador na seca, a relação com chefes e o comportamento do político, semelhante ao coronelismo, que sofreu abalo com o deslocamento de trabalhadores do campo para a cidade.

No início de 60 foram premiadas matérias de forte cunho político. Se destacam as matérias de José Gonçalves Fontes, do Jornal do Brasil, sobre fraude eleitoral nas eleições legislativas da cidade do Rio de Janeiro, de Mário Mazzei, da Folha de S. Paulo, que mapeou o Vale do Rio São Francisco sob o ponto de vista econômico, também com apelo no Nordeste (o vale corta Minas Gerais, Bahia e Pernambuco), em "Um rio desafia o Brasil".

O último trabalho de influência social, digamos assim, foi em 1964, um ano da implementação do AI-5, que confirmou a ditadura no país. O autor foi Walter Firmo, do Jornal do Brasil, que retratou a rotina dos que viviam na Amazônia, com suas dificuldades. A partir daí, as amenidades tomaram conta do prêmio, justamente por causa da censura. Em 1966 o evento não foi realizado e nos três anos seguintes as premiações foram para duas matérias sobre futebol e uma explicando a psicanálise.

Em 1970, o prêmio foi para Carlos Chagas, repórter do O Globo que conseguiu a matéria após relatar a tentativa do presidente Costa e Silva em redemocratizar o país. Para construir a reportagem, ele relatou sua experiência do período em que foi secretário de imprensa da presidência da república. A Amazônia voltou ao foco com dois prêmios, que antecederam outro que foi para o relato de Humberto Borges no Jornal do Brasil de sua experiência em uma prisão de Cuba, terra de Fidel Castro.


O sopro de contestação política veio em 1976, com a reportagem "Assim vivem nossos superfuncionários", do Estadão. Feita por uma equipe de jornalistas, ela denunciou a farra de funcionários públicos na máquina administrativa. Já no fim da década duas outras matérias políticas mostraram um esboço do jornalismo investigativo novamente. "Exclusivo: Fala Figueiredo", de Getúlio Bittencourt e Haroldo Cerqueira (Folha de S. Paulo), exibe um perfil daquele que seria candidato a presidência bem diferente de sua imagem oficial, e "O sequestro dos uruguaios" (Luiz Cláudio Cunha e J.B. Scalco, da Veja), revelam a relação entre o crime político protagonizados por policiais que combatiam dissidentes.


No período seguinte, o combate contra a ditadura ganhou força e foram expostos casos de contratos nucleares entre Brasil e Alemanha, atentado do Rio Centro, revoltas na Marinha. Dos dez prêmios da década, oito foram para matérias que denunciavam irregulares no governo.

Em 1990, as reportagens internacionais dividiram espaço com a política nacional. Retratos da Guerra do Golfo e da polícia secreta russa (KGB) foram premiados, bem como a relação entre PC Farias e COllor e a candidatura do apresentador Silvio Santos à presidência do país. Com o fim da ditadura, as reportanges políticas foram diminuindo o tom e as de comportamento deram sequência até 2000. A partir daí, a cobertura sobre os políticos se manteve intensa, mas as favelas começaram a ganhar destaque, com o comportamento de traficantes, relação com a polícia, crimes, entre outros.

Neste ano, o prêmio foi para a cobertura da Folha de S. Paulo sobre a queda do presidente da Confederação Brasileira de Futebol. A reportagem ganha mais importância pois coloca o esporte de volta à tona, mas diferente dos anos 70, com uma reportagem investigativa sobre a posição do principal dirigente esportivo do país até então, em período que o Brasil receberá as duas maiores competições do planeta: Copa do Mundo, em 2014, e Jogos Olímpicos, em 2016.

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