quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Fotoxjornalismo
O artigo dos mestres em comunicação social Alice Baroni e Leonel Aguiar trata da posição do fotojornalismo na notícia. Sob o olhar de ONGs dos projetos Viva Rio e Observatório de Favelas, dedicados ao trabalho comunitário, que pretendem ampliar o olhar da imprensa para além da pobreza e violência, nesses locais.
O estudo revela um contraponto entre fotógrafos populares e os "noticiosos". Os primeiros tem a clara missão de retratar a favela sem elementos de violência e pobreza, motivados justamente pela constante exposição da mídia desses fatores, que acabam por associá-los ao lugar. Essa motivação já acaba por deixar seu trabalho parcial, indo contra um dos princípios mais importantes do jornalista. Pois assim como o repórter tem o poder de "beneficiar" determinado lado com sua escrita, o fotógrafo pode também reforçar algum ponto de vista com câmera. Entretanto, como já foi dito, essa ação é motivada pela caracterização que as comunidades foram "obrigadas" a aceitar.
Apesar do objetivo de mostrar uma favela em progresso, eles admitem em seu discurso que a realidade não está totalmente mudada. Em um dos trechos do texto, é dito que "Enquanto moradores de favelas, fotógrafos populares ressaltam que eles precisam saber muito bem os limites de sua atuação, de modo a salvaguardar a suas próprias vidas e também as pessoas da comunidade". E é neste ponto que se apoiam os fotojornalistas. Eles afirmam que o tráfico ainda tem o poder de ditar as regras e ameaças das favelas e consequentemente aos seus trabalhos. Tim Lopes também é usado como justificativa, pois segundo eles, sua morte representou a quebra do "bom convívio" entre criminosos e jornalistas.
O curioso é que a partir da implantação da UPP no Alemão, outra força repressora passou a ditar as regras para os fotógrafos: a polícia. Segundo Bruno Itan, morador do complexo, ele foi impedido de documentar a invasão do morro por agentes do estado, que haviam limitado também o trabalho da imprensa convencional, que não passou da entrada da favela por motivos de segurança.
- O que é que tu tá fazendo com essa câmera? Ué, tô imortalizando o que está acontecendo aqui. Isso aqui é inédito, histórico, isso aqui nunca vai acontecer de novo. Aí ele falou: o que... tu tá tirando várias fotos com cara de policial pra isso mesmo? Tu tá tirando foto pra mostrar pros cara lá dentro, rapá. Tá pensando que eu não te conheço não? Eu já te vi aqui. E eu fui deixando ele falar... ele começou a falar uma história que devia ter medo e eu olho tranquilo pra ele. Primeiramente, o que eu tô fazendo é um exercício de democracia, se o senhor num sabe. Isso aqui eu tô criando notícia. Isso aqui você não pode me proibir de fotografar ninguém em espaço público, vocês estão em espaço público agora, se eu quiser fotografar vocês eu posso, fotografo, só que eu não tenho ordem, nem autorização, de publicar a tua cara em canto nenhum sem a sua autorização. Mas a foto é minha, eu posso fazer o que quiser com ela, só não posso publicar a sua foto, sem a sua autorização, mas eu posso tirar a sua foto. A gente está em espaço público. Aí começou... ele se sentiu como se eu estivesse... eh.. um morador do morro qualquer... eh... falando coisas sábias pra um policial. Como se ele não soubesse de nada, entendeu. Ele se sentiu assim... oprimido assim. Com essa expressão... eu senti isso nele - relatou Bruno, que foi ameaçado a formatar sua câmera sob ameaça de ir para a delegacia por desacato à autoridade.
Existe um processo de discussão dos critérios de noticiabilidade sobre as favelas. O que por muitas vezes passou a ser notícia simplesmente por seu apelo visual ou emocional, agora é questionado em prol do valor da informação. Pelo menos é pelo que lutam as ONGs.
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"Abaixando a máquina: ética e dor no fotojornalismo carioca", de Guillermo Planel e Renato de Paulo, faz, sem trocadilho, um retrato instigante do papel do repórter fotográfico na guerra urbana.
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